Além de seu perfil protéico de alto valor biológico, a soja é considerada um alimento funcional em razão de seus diversos benefícios à saúde, cientificamente comprovados
A soja é um dos alimentos funcionais cujos benefícios são mais conhecidos pela população e reconhecidos por órgãos de saúde. Originária da China, a soja é um grão que pertence à família das leguminosas, assim como o feijão, a ervilha e a lentilha.
Rica em fibras e cálcio, a soja contém uma considerável quantidade de todos os aminoácidos essenciais, assemelhando-se às fontes protéicas de origem animal. Também é uma boa fonte de vitaminas do complexo B, de potássio, zinco e outros minerais, além de seu perfil lipídico ser composto principalmente por ácidos graxos poli-insaturados, que auxiliam na manutenção de níveis adequados de colesterol do sangue e, portanto, contribuem para a saúde cardiovascular.
Além de saponinas, ácidos fenólicos, ácido fítico e fitoesterois, a soja contém isoflavonas em sua composição. As isoflavonas apresentam uma estrutura semelhante à do hormônio estrogênio e, por isso, são conhecidas como fitoestrógenos ou fito-hormônios, exercendo diversas ações biológicas importantes1. Assim, a soja recebe considerável atenção pelo seu potencial na redução do risco de doenças crônicas2, como será descrito a seguir.
Os benefícios da soja à saúde
Diversos estudos demonstram que a soja exerce ação hipocolesterolêmica, contribuindo para a prevenção de doenças coronarianas. Diversas evidências comprovam que as isoflavonas exercem potente ação hipocolesterolêmica em humanos 3-5. Os estudos verificaram que a ingestão diária de 20g a 50g de proteína de soja isolada rica em isoflavonas pode resultar em redução de até 30% do risco de doença coronariana 6,7.
Em um estudo realizado por Wangen et al. 3 com mulheres pós-menopausadas normo e hipercolesterolêmicas, com idade entre 45 e 70 anos, verificou-se que, quando comparada com a dieta controle, a dieta com alta concentração de isoflavona (2mg/Kg/d) reduziu o LDL-c em 6,5%. Além disso, as dietas com alta e baixa concentração de isoflavona reduziram a razão de LDL/HDL colesterol em 7,7% e 8,5%, respectivamente. Apesar de terem sido notadas pequenas diferenças nas concentrações de LDL-c, essa diminuição pode ser associada com uma redução de 16% no risco de doença coronariana.
Os possíveis mecanismos das ações responsáveis por esses efeitos incluem a similaridade biológica da isoflavona com o estrógeno, os efeitos da proteína de soja e da isoflavona na atividade da lipase hepática e no tecido adiposo, a regulação dos receptores de LDL, a indução da expressão gênica de diversas enzimas e proteínas importantes no metabolismo lipídico e a inibição da absorção do colesterol no intestino delgado pela proteína de soja 4, 5.
Assim, a Food and Drug Administration (FDA) 8 aprovou uma alegação sobre as propriedades da proteína de soja na redução do colesterol sanguíneo: "O consumo de 25g de proteína de soja por dia como parte de uma dieta baixa em gordura saturada e colesterol pode reduzir o risco para doenças do coração". Esta recomendação também está devidamente reconhecida pela ANVISA 9.
Consumo de soja e saúde da mulher
A soja pode ser um excelente protetor contra o câncer de mama.
As isoflavonas da soja possuem efeitos tanto estrogênicos como antiestrogênicos, dependendo do tecido em que elas atuam. Na fase reprodutiva, quando a concentração de hormônios endógenos circulantes é alta, as isoflavonas podem exercer um efeito antagonista fraco no receptor de estrógeno, consequentemente provocando um efeito antiestrogênico nos tecidos uterino e mamário, onde o excesso de estrógeno pode estimular a proliferação celular e o crescimento tumoral. Por esse motivo, seu consumo tem sido atribuído a uma diminuição do risco de câncer de mama estrógeno-dependente 11,12.
Essas evidências foram confirmadas no estudo de Wu et al. 13, realizado em mulheres com idade entre 25 e 74 anos, que avaliou a associação do risco de câncer de mama associado à ingestão de soja durante a adolescência e a idade adulta. O estudo verificou que o risco para câncer de mama foi inversamente associado à ingestão de soja durante a adolescência e a idade adulta. As mulheres que reportaram ingestão de soja pelo menos uma vez por semana durante a adolescência mostraram uma redução estatisticamente significativa no risco de câncer de mama. A média de ingestão de isoflavona foi de aproximadamente 12mg/dia. Além disso, as mulheres que consumiam quantidades de soja, tanto na adolescência como na vida adulta, apresentaram o menor risco.
As isoflavonas da soja podem ser importantes aliadas no período da menopausa
No período da menopausa, quando ocorre uma redução significativa das concentrações de estrógeno circulantes, os seus receptores ficam consequentemente mais disponíveis, favorecendo a ação estrogênica das isoflavonas, que, embora fraca, auxilia na reposição do hormônio endógeno 14.
Recentes estudos que utilizaram altas dosagens das isoflavonas da soja verificaram melhora significativa dos sintomas do climatério. Estudo de Li et al. 15 avaliou os efeitos da suplementação de 120mg/dia das isoflavonas da soja nos sintomas do climatério em 50 mulheres, durante oito semanas. O estudo verificou que as isoflavonas da soja promoveram uma redução significativa na frequência dos sintomas mais comuns, tais como os fogachos e a insônia. As isoflavonas promoveram, ainda, um aumento nas concentrações dos hormônios estrógeno, progesterona e testosterona circulantes.
Entretanto, evidências sugerem que a ingestão de quantidades menores das isoflavonas já é suficiente para promover esses benefícios. O estudo de Welty et al. 16 verificou que o consumo diário de 25g de proteína de soja durante oito semanas promoveu uma redução de 45% no número de episódios de fogachos ao dia. Resultados semelhantes foram obtidos na revisão de Kurzer 17, que concluiu que o consumo de 30mg/dia das isoflavonas da soja pode reduzir os fogachos em até 50%. Além disso, o autor ressalta que esta ingestão deve ser realizada fracionada ao longo do dia para garantir os seus benefícios.
A soja pode estar associada à saúde óssea
Observações recentes indicam que a soja tem um efeito positivo na saúde óssea, mas o exato mecanismo de ação ainda não está claro. Diversos estudos epidemiológicos verificaram uma associação entre o consumo de uma dieta rica em produtos à base de soja com a baixa prevalência de osteoporose. Evidências sugerem que as isoflavonas da soja previnem a perda óssea causada pela deficiência de estrógeno que ocorre no período da menopausa 18.
Recente meta-análise publicada por Taku et al. 19 analisou os estudos que avaliaram os efeitos das isoflavonas da soja na densidade mineral óssea (DMO) em mulheres menopausadas e verificou que a ingestão média diária de 82mg de isoflavonas ao dia aumenta a DMO na espinha lombar em mulheres menopausadas. Outra meta-análise 20 realizada examinou 18 estudos conduzidos para avaliar os efeitos da isoflavona da soja na DMO da espinha e os biomarcadores de reabsorção óssea (deoxipiridinolina urinária e fosfatase alcalina óssea).
As análises indicaram que o consumo de 90mg/dia de isoflavonas promoveu o aumento significativo da DMO na espinha, além de reduzir os marcadores da reabsorção óssea, indicando que os mecanismos de ação das isoflavonas na saúde óssea estão associados à inibição da reabsorção óssea e à estimulação da formação óssea 20.
Consumo da soja como alternativa para indivíduos com intolerância à lactose
A intolerância à lactose é o tipo mais comum de intolerância aos carboidratos e acomete cerca de 70% da população adulta mundial 21. No Brasil, a incidência da deficiência de lactase ocorre em 58 milhões de brasileiros maiores de 15 anos, correspondendo a cerca de 25% da população 22,23.
A soja é a única fonte de proteínas de origem vegetal que possui todos os aminoácidos essenciais e, portanto, é considerada fonte proteica de alto valor biológico, além de ser uma importante fonte de cálcio 2.
Referências Bibliográficas:
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